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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Meu Anjo é Você, Capítulo I

Jake MacDonald segurou no prego que servia como botão de volume do rádio com um alicate e o virou. O rádio do velho caminhão tomou vida, ecoando o noticiário do
meio-dia.
A Bolsa de Valores tinha caído duzentos pontos, a política de Washington estava pior que o normal, mais um cometa estava se aproximando da Terra, e ele, proprietário
e presidente da Estibordo Internacional, estava levando uma carga de feno de Gettysburg, Pensilvânia, para Charles Town, oeste da Virgínia. E pior: naquele mesmo
caminhão decrépito que já guiara no passado quando garoto. Que divertido, pensou de mau humor. Muitas coisas acontecendo ultimamente.
Uma rápida ligação para sua secretária aquela manhã revelara que um grupo de compradores japoneses chegaria em duas semanas, e não havia suítes disponíveis no Hotel
Hilton de Baltimore. Ele tinha de intervir no caso. Hope era uma secretária boa e confiável, mas era ele quem teria de conversar com o gerente do hotel pessoalmente.
O bendito celular não parara de vibrar desde que ele deixara a velha propriedade aquela manhã. Jake balançou a cabeça. Por quanto tempo mais poderia manter funcionando
a fazenda da família, no lugar de seu pai convalescente, e ainda dirigir sua empresa multimilionária de construção naval?
Apesar dos pensamentos obscuros, um sorriso apareceu em seus lábios. Crescer em uma fazenda tinha de ser a melhor e a pior coisa da infância. Trabalho duro de sol
a sol com momentos de pura alegria roubados aqui e ali. Pular do palheiro, perseguir galinhas com o trator, mergulhar no lago nos dias quentes de verão...
Então devaneou sobre como colocara tudo aquilo no passado assim que se tornou um bem-sucedido homem de negócios e sobre quão rápido cada detalhe daquela vida voltara
assim que ele inalou o primeiro corte do feno.
Mas naquele momento não tinha absolutamente nenhum tempo para aproveitar a fazenda.
O celular tocou novamente no banco do passageiro e, praguejando, Jake pegou o aparelho, abriu oflip e...
Duas manchas peludas surgiram do acostamento e apareceram em sua linha de visão. Enfiando o pé no breque e puxando o volante para a esquerda a fim de evitar atropelar
os cachorros, Jake cerrou os dentes, enquanto os pneus cantavam em protesto. Ele lutou contra o peso da carga de feno na carroceria enquanto o velho caminhão rabeava,
deslizando a parte traseira para o acostamento de cascalho solto.
- Meu Deus! - gritou quando a oscilação lhe pareceu fora de controle. A carroceria se soltou, e os dois pedaços do veículo deslizaram pelo declive lateral, parando
em uma vala oito metros abaixo, com dois fortes estrondos. Mas somente depois de Jake ter batido a cabeça no volante com força.
Recobrar a consciência foi como ter morrido e retornar à vida. Ele não se lembrava de nada do processo, apenas de perder o controle do caminhão. Pouco a pouco, com
o passar dos minutos, ele sentiu o corpo todo dolorido.
Lutando para se orientar, Jake se lembrou dos dois cães surgidos do nada e da batalha para manter-se na estrada. Ele permaneceu sentado imóvel, enquanto avaliava
a severidade da dor em sua cabeça que latejava. Erguendo devagar o braço até a linha de visão, gemeu ao ver o celular quebrado em sua mão. Abrindo os dedos, assistiu
sua comunicação escorregar em uma dúzia de pedaços.
Quatro da tarde. Oh, estivera inconsciente por um tempo.
Automaticamente levando a mão à testa, sentiu o sangue escorrendo. Aqui está a razão para esta colossal dor de cabeça, disse a si mesmo através de dentes cerrados.
Que coisa! Não tinha tempo para aquilo. Se havia algo que detestava, era atraso. E aquele era dos maiores.
Após continuar imóvel por mais alguns minutos, começou a movimentar devagar uma e outra parte do corpo para se certificar de que não quebrara nenhum osso ou se literalmente
cairia algum pedaço quando se mexesse.
O caminhão estava tombado de lado, a porta do motorista colada na terra. Com cuidado, Jake foi levantando todo aquele corpo de um metro e noventa com a ajuda dos
braços e alcançou a janela do passageiro.
Quando ele forçou o corpo para fora, uma pontada de dor correu do joelho até o pulso direito. Com um gemido, Jake cerrou os dentes contra a tolice daquele acidente.
Deveria ter passado por cima daqueles cachorros loucos!
Uma vez em terra firme e equilíbrio recuperado, Jake examinou o resultado enquanto flexionava o joelho dolorido. Um pára-choque quebrado, a carroceria virada, o
farol traseiro pendurado por um fio e a lataria arruinada. O velho caminhão tinha sido completamente destruído. E a carga de feno rolara toda, fardo por fardo.
Simplesmente, maravilhoso!
E o celular inutilizado. Para piorar, seu pai não sentiria sua falta até a manhã do dia seguinte.
Jake decidira fazer por si mesmo todo o trajeto até Charles Town, assim seu pai poderia ir se acostumando a depender um pouco da empregada que ele mal podia tolerar
ver, mas que seu filho insistira em contratar.
Deliberadamente, em vez de pegar as estradas movimentadas, optara pelas auxiliares, pretendendo relaxar nos aromas do passado. E não tinha ido muito longe quando
os dois cachorros o encurralaram.
Agora a empregada teria de auxiliar seu pai a tomar banho e ir para cama. Aquilo atormentaria seu velho pai até não poder mais. Talvez, sem olhar para a parte trágica
da história, aquele acidente fosse, na verdade, uma coisa boa. Seu pai teria que depender dela um pouco mais de tempo. Até já podia ver Pop, resmungando e lutando
contra cada tentativa da mulher em ajudá-lo.
E agora?
Aquela estradinha era definitivamente a menos utilizada. Poderia levar horas até que algum veículo aparecesse. Jake não se lembrava a quantos quilômetros atrás vira
a última casa, mas sabia que estava perto de um cruzamento, pois vira uma placa. Então decidiu ir em frente.
O sol poente de agosto era frio, e a umidade estava começando a piorar. O suor brotou no rosto, antes que tivesse andado um quilômetro, e fazia arder o ferimento
da testa. O joelho e o pulso estavam inchados e doendo, isso sem mencionar os pequenos arranhões nas mãos causados pela quebra do celular. Sim, estava realmente
de mau humor.
No momento, seu físico parecia muito com o jeito que ele andava se sentindo. Espancado e com raiva. Dolorido e sentido. Sabia que aquilo vinha de muito trabalho
em dois lugares diferentes, da luta de tentar convencer seu pai a viver em algum outro canto que não a velha fazenda.
Finalmente, ele se aproximou do cruzamento. Uma cerca de madeira com pintura descascada demarcava o terreno. As velhas tábuas estavam praticamente cobertas por videiras,
carregadas com flores de ipê amarelo e rosas brancas salpicadas em toda a extensão. Pelo menos aquilo significava que algum tipo de civilização estava perto. O que
era uma boa coisa.
Caminhando dolorosamente, ele forçou um sorriso. O que não daria por uma cerveja gelada naquele momento...
Algum tipo de estrutura estava meio escondida um pouco além da estrada. Mancando mais alguns metros, parou. Incerto de que estava vendo corretamente na luz decrescente,
ficou ali, no meio da rodovia, estudando a aparição.
Impossível. Mais um passo. De jeito nenhum. Fechando os olhos antes da tentativa de focar uma segunda vez, balançou gentilmente a cabeça para clarear a visão. Batera
a cabeça no volante tão forte quanto estava achando? Ainda estava inconsciente? O que era aquilo que estava vendo? Uma página arrancada de um livro de contos de
fadas? Um mundo paralelo?
O estábulo de madeira com telhado vermelho inclinado, tinha uma estranha estrutura cônica. O chalé ao lado esquerdo era baixo e comprido. Tinha sido pintado no que
se pode apenas ser descrito como um lilás vivo com janelas cor de framboesa. E tudo isso coberto com curvas de chantili branco.
As cortinas de renda que dançavam nas janelas eram amarelo-gema. Na varanda havia pelo menos uma dúzia de vasos pendurados de plantas com flores multicoloridas.
Encaixada ali, entre os diversos tons de verde e com o pôr-do-sol violeta por trás, olhar para aquilo era como olhar através de um caleidoscópio. E rodando o cilindro.
Videiras floridas pendiam dos pilares da varanda, distribuindo sua doce fragrância. E aquilo que preenchia o ar de fim de tarde era... poderia ser... aroma de maçã
quente com canela?
Enfiando as mãos nos bolsos, Jake simplesmente estreitou os olhos e respirou fundo. Sim, definitivamente ainda estava inconsciente. Ou morto! Nunca esperara que
morrer fosse tão bom.
Em toda a volta do chalé havia flores e mais flores entre árvores e arbustos bem cuidados. Uma brisa leve movimentava os galhos e folhas, fazendo os últimos raios
de sol parecerem cacos de vidro brilhando sobre o gramado.
Tão miserável quanto se sentia, continuou ali em pé, sentindo a dor aumentar. Nunca vira nada igual àquilo em sua tão viajada vida.
E então, de repente... viu uma mulher em pé entre os arbustos. Uma bela mulher. E Jake se pegou completamente fora de controle. Tudo bem. Definitivamente caíra na
toca do coelho e estava no País das Maravilhas. E aquela devia ser Alice, claro, agora crescida.
Esfregando os olhos, disse a si mesmo que estava em estado de choque. Era a única explicação! Em choque, ainda no caminhão, olhos fechados, cabeça sangrando e à
espera de que alguém o encontrasse. Uma hipótese bastante razoável.
Jake focou a mulher outra vez. Inacreditavelmente ela ainda estava ali, usando o que ele imaginava que uma fada madrinha escolheria como vestimenta.
Um vestido azul-claro com pequeninas estampas, na altura dos tornozelos, sem mangas e levemente acinturado. E, naquele excelente ponto, sobre seios cheios e arredondados,
havia uma pala de renda branca. Ocorreu em sua mente confusa que aquele era um traje nada prático para se cuidar de um jardim.
Por baixo de um chapéu de palha de abas bem largas, pendiam cabelos castanhos muito longos, levemente cacheados, e com algumas mechas causadas pelo sol, em tom avermelhado,
que ela mantinha afastados com a mão coberta por uma luva, enquanto a outra segurava uma pá. E ele era capaz de imaginar as curvas que estavam escondidas sob aqueles
trajes soltos.
Antes que Jake pudesse falar, ela se virou, encarando-o. Jake nunca perdera o fôlego antes, exceto a vez que caíra do galho mais alto de uma macieira aos nove anos
e sentira o impacto da pancada tirar todo o ar de seus pulmões.
Agora experimentava aquela sensação de novo, só que mais forte. Certamente nenhuma mulher nunca lhe tirara o fôlego. Aquilo devia ser efeito residual do acidente,
só isso.
Surpresa por ver alguém parado ali, Gretel focou sua visão no homem que aparecera tão subitamente na beira de seu jardim de flores.
- Olá - disse ela calmamente, ignorando a pontada de atração, perante a inesperada visão de um homem tão bonito. - Não ouvi nenhum ruído de carro se aproximando.
Acabei de fechar, mas não há problema. Eu o atenderei em um minuto. - Inclinando-se, a jovem preencheu a cesta que tinha em mãos com um último punhado de flores
recém-cortadas. - Você está interessado em, mudas de flores sazonais, aquáticas ou arbustos? Fique à vontade para olhar pelo jardim se quiser.
Flores? Mudas? Sobre o que ela estava falando? A voz da jovem era exatamente a que ele imaginava que as sereias teriam. Aquela voz que arrastava os marinheiros para
o mar e fazia seus barcos quebrarem-se contra os rochedos. Doce, porém forte. E infinitamente sedutora.
Jake permaneceu imóvel como estátua, maravilhado que uma mera pancada na cabeça pudesse causar tão deleitosa fantasia. Sim, devia estar mais machucado do que pensava.
Gretel endireitou o corpo e inclinou a cabeça para que a aba do chapéu fizesse sombra enquanto o inspecionava.
De onde viera aquele homem? Não havia nenhum carro por perto. Ele parecia em alerta, quase como um garanhão parado no pasto à espreita de uma égua. A presença do
homem a deixou um pouco desconfortável, mas ao mesmo tempo a impressionante aparência a intrigou.
O estranho era alto. Bem alto. E tinha uma aparência dura. Os cabelos escuros movimentavam-se com a brisa.
A calça jeans era justa no quadril e em quase toda a extensão daquelas pernas, obviamente musculosas e fortes, marcadas pelo tecido. Botas surradas de caubói, uma
camiseta preta sem mangas e um boné de beisebol desajeitado na cabeça completavaníb quadro.
Tudo naquele homem parecia tão poderoso quanto o trator que ela usava para arar as terras, mas, podia apostar, não tão fácil de lidar.
Gretel afastou os pensamentos perturbadores.
- Você não está interessada. Lembre-se de que homens não são nada além de tiranos e que você não quer nada com eles. Venda a ele algum produto de seu trabalho e
ponha-o de volta na estrada.
Mas o coração batia forte só de olhá-lo. Ignorando os efeitos e esperando que não ficasse óbvio para ele, ela caminhou entre as duas fileiras de margaridas em sua
direção. Dois cachorros enormes apareceram do nada e começaram a segui-la.
Ele respirou fundo.
- Certo, os culpados retornando da cena do crime.
Ela olhou para os cachorros que se sentaram obedientes a seu lado. Do que ele estava falando?
Em um tom de confidência, que escondia seu nervosismo, perguntou:
- No que posso ajudá-lo? - Só então notou que ele estava ferido. - Belo machucado.- Ela se aproximou um pouco mais.- O que aconteceu? Você está bem?
A mulher era mesmo de verdade. Jake teve que cerrar os punhos para evitar que suas mãos se levantassem instintivamente e acariciassem aquela pele sedosa ou que tirassem
alguns daqueles cachos caídos no rosto. Desviando o olhar para assegurar que seus pensamentos não o traíssem, acabou pousando os olhos numa placa que não havia visto
antes:
BLUEBERRY HILL PLANTAS E FLORES
Meu Deus! O lugar também era real.
- Você está bem? - repetiu ela.
Respirando fundo, Jake voltou a fitá-la. Aquilo foi outro erro. No instante em que os olhares se cruzaram, ele praguejou contra a sorte. Cinco anos atrás, antes
de seu divórcio e de todas as lições que aprendera, aquela sensação teria sido muito bem-vinda, e ele pediria por mais. Hoje, a mesma sensação somente o fazia ter
vontade de fugir. Rápido.
Lembrando-se da presença dos culpados, baixou o olhar para a cara inocente dos dois cachorros.
- Bem, eu capotei meu caminhão e bati a cabeça no volante. Acabei dentro de uma vala abaixo do acostamento da estrada, com cerca de uma centena de fardos de feno.
Parece que seus cachorros fizeram um belo exercício hoje. Posso dar um telefonema? Meu celular não sobreviveu ao acidente.
- Um acidente? Meu Deus! Claro que pode usar o telefone. Entre e deixe-me praticar meus aprendizados de primeiros socorros. - Ela virou-se e começou a guiá-lo, mas
então parou abruptamente quase colidindo com ele. - Ou você gostaria de ir para o hospital? Pancada na cabeça é um perigo, você pode entrar em choque. Posso levá-lo
de carro até lá.
Ela estava falando demais e sabia disso, mas percebeu que não havia nada que pudesse fazer a respeito. Deixando a cesta lotada de flores embaixo da mesa redonda
da varanda, puxou a porta de tela.
- Meus cachorros... oh, Deus, meus cachorros provocaram o acidente. Eu sinto muito. Eu pagarei. Como exatamente eles fizeram isso? Vou ligar imediatamente para minha
companhia de seguros. - Respirando fundo, pensou: "Exatamente o que eu precisava. E logo agora que as coisas estavam começando a ir bem. Esse é o meu destino".
Levantando a mão machucada, Jake a fez parar de se culpar ainda mais.
- Eles saíram da mata e simplesmente pularam na minha frente. Deviam estar perseguindo alguma coisa. Foi muito mais culpa minha do que deles. - Deus está vendo,
pensou ele. - E o caminhão já era um ferro-velho, de qualquer forma. - Meu pai vai me matar. - E eu estou bem. Mas poderia aceitar um drinque.
Enquanto a seguia para dentro do chalé, capturou seu doce aroma. Frutas. Laranjas. Ele lambeu os lábios.
- Estou me sentindo péssima em relação ao que aconteceu. Farei qualquer coisa para consertar.
-Não ofereça muito, Gretel, disse a si mesma. Você não conhece esse homem. Ele pode acabar lhe processando.
Encontrando-se inexplicavelmente ávido para ouvir o som da voz dela, Jake a seguiu pela casa, quase tão obediente quanto os dois cães.
Olhando ao redor enquanto caminhavam através do pequeno chalé "encantado", teve de admitir a si mesmo que aquele lugar era diferente de tudo que já vira na vida.
Havia um sofá cor-de-rosa de aparência superconfortável contra a parede embaixo da janela. No chão, de cada um dos lados do sofá, dois gnomos de sessenta centímetros.
Na parede adjacente, enormes poltronas verde-musgo contracenavam com dois almofadões na frente da lareira. Uma mesinha antiga de xadrez, um cachorro sarapintado
de cerâmica e uma cadeira de balanço completavam a decoração. De modo geral, era um espaço limpo e organizado.
Até que ele olhou para as mesinhas de canto e prateleiras. Devia haver uma centena de animais de porcelana entre pássaros, cavalos e águias. Pedras brutas semipreciosas
estavam espalhadas em desordem. Vasos de plantas pendiam de cada janela. Revistas de jardinagem e catálogos aumentavam a bagunça. Jake revisou sua opinião inicial.
O lugar era um caos organizado.
Gretel o conduziu por um longo corredor, deixando o chapéu de palha em um cabideiro no caminho. Abrindo a porta do banheiro, gesticulou para que ele a seguisse.
Jake achou que tivesse dado um passo para dentro do século dezenove.
- Por favor, sente-se na beirada da banheira.
Ele olhou desconfiado para a peça de porcelana branca de bordas arredondadas e pés de leão e suas torneiras de cobre. Parecia robusta o suficiente, mas também pronta
para arriar sob seu peso.
- Pode se sentar sem susto que ela o agüentará. Meu Deus, você deve estar se sentindo péssimo. - Ela abriu a torneira de água quente e molhou uma toalha.
Involuntariamente gemendo de prazer, Jake fechou os olhos e relaxou quando ela envolveu sua cabeça na toalha morna e a pressionou. Se alguma sensação tivesse sido
tão gostosa, não podia se lembrar naquele momento.
- Isso realmente me preocupa. Agora que os cachorros ficaram mais velhos, começaram a escapar daqui de dentro para passeios mais longos. Normalmente vão para a mata,
atrás de algum animal. Não sabia que iam para a estrada. Mas assumirei todos os prejuízos, prometo. - Ela estava falando demais outra vez, sabia disso, mas o que
mais poderia fazer?
Recordando-se do básico sobre primeiros socorros, Gretel fez algumas perguntas pertinentes.
- Você está com ânsia ou tontura?
- Eu estou bem. - Na verdade, estar perto dela daquele jeito o estava fazendo sentir-se bem até demais. - Preciso apenas daquele drinque.
- Isso pode indicar que você está em choque, sabe. - Ela o fitou com tristeza, ciente de que deveria ligar para sua companhia de seguros e explicar o fato. Apesar
de sua triste situação, ela riu.
- O quê? O fato de eu precisar de um drinque?
Ela suspirou, de alguma forma irritada perante a tola piada dele.
- Fico feliz que você consiga encontrar algum humor nessa situação. - Ela teria de manter os cachorros presos na coleira ou construir um imenso canil. Complicações
não eram mais permitidas em sua vida. Ou pelo menos fora isso que ela decretara. Mas tomaria conta do problema daquele homem primeiro. Uma coisa de cada vez.
- O que você gostaria?
Ele bem que duvidava, mas a bela moça podia ter uma latinha escondida na geladeira.
- Eu não acho que você teria uma cerveja.
- Pelo amor de Deus, e por que não? - Ela pegou a mão dele e o fez segurar a toalha, pressionando-a forte contra o ferimento. Então saiu para o corredor.
Porque você me parece mais do tipo limonada - murmurou ele sob a toalha. Tinha de sair logo dali. Ser tratado com tanta ternura estava, no mínimo, interessante demais.