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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Meu anjo é você - Capítulo III

Gretel parou na varanda dos fundos para lavar as mãos e gritou através da porta de tela da cozinha:
- Você não tinha que ir lá fora na frente da minha cliente com aquele ar arrogante. Aquela senhora gasta mais em flores por semana do que a maioria das pessoas gasta
em comida.
- E? - Ele não sabia o que mais dizer.
- E isso significa uma bela entrada mensal no meu caixat Batendo a terra dos sapatos.
Gretel entrou na cozinha. A luz do sol da manhã parecia brilhar em volta daquele pequeno corpo curvilíneo. Em uma das faces, ainda havia uma mancha de terra que
escapara da água e barro nos joelhos da calça jeans. Pequenos cachinhos brilhantes, soltos do elástico que ela colocara para prender os cabelos, pendiam sobre os
ombros. Jake tinha de admitir a si mesmo que nunca vira ninguém tão perfeito quanto ela.
A imagem dele sentado ali, as pernas envoltas nos pés altos do banco do balcão, os braços musculosos e a mão forte sobre o tampo de mármore, a fez sentir uma vontade
doentia de tocá-lo. Isso sem mencionar aquele meio sorriso que ele tinha no rosto... o jeito que curvava um dos cantos daquela boca convidativa... queria muito saber
como aqueles lábios se encaixavam nos seus.
Gretel não se sentia tola assim desde o colegial e isso fora há muitos anos. Uma sensação desconfortável, complicada pela curiosidade, um inexplicável senso de antecipação
e um pouco de alguma outra coisa que não sabia exatamente o quê. Mas fosse o que fosse, tinha de passar. Homens eram controladores e egoístas. Pretendia mantê-los
afastados de si. Disso tinha certeza.
Forçando-se a manter o acidente como a principal coisa em sua mente, Jake bebeu o restante do suco de laranja e respirou fundo.
- E agora você poderia me contar como conseguiu trazer os pedaços do meu caminhão e a carga de feno até aqui?
Ela colocou seu meio sanduíche frio no forninho elétrico e girou o botão do timer. Enquanto esquentava, fatiou uma maçã com habilidade.
- Esse é o jeito melhor de fazer essa pergunta. - Ela olhou da maçã que estava fatiando para ele. - Toby e eu descemos até o local do acidente com o caminhão. Você
estava adormecido. O acidente lhe tirou mais energia do que imagina. - Contra a seriedade do olhar dele, ela protestou: - Isso realmente importa? E se chovesse?
Você queria que sua carga estragasse? O feno é para cavalos, não é? Tem um cheirinho de trevo e capim. Já ouvi dizer que nunca se deve alimentar cavalos com feno
úmido.
- Toby?
Deslizando uma fatia de maçã entre os lábios, ela assentiu.
- Meu vizinho. Grande sujeito. Está sempre pronto para ajudar quem quer que seja.
A resposta de Jake foi rápida e ácida.
- Não preciso da ajuda de ninguém. Eu ia lidar com tudo isso sozinho.
- Oh, Deus, eu sei. Homens. Você tem idéia de quanto está sendo tolo? Deveria estar grato por não ter tido que lidar com aquela bagunça. - O alarme do forninho soou,
e ela puxou a pequena bandeja de dentro para retirar o sanduíche.
Jogando uma maçã para Jake, continuou antes que ele pudesse protestar:
-  E então, para onde nós vamos? - Ela aceitou o copo de suco que Jake serviu e lhe entregou.
- Nós... não vamos a lugar nenhum - disse ele enfatizando o pronome.
- Bem, você não espera que eu vá emprestar meu caminhão para um estranho, espera? Principalmente para quem acaba de destruir o seu próprio. - Ela sorriu. - Calma,
é brincadeira. - Olhe por esse prisma, meus cachorros causaram o acidente, então é minha responsabilidade fazer com que sua carga chegue ao destino. De qualquer
forma, está um lindo dia para um trajeto longo, não está? Encontrei uma sacola na cabine do seu caminhão com um sanduíche estragado, três barras de chocolate quebradas
e uma garrafa térmica de café. Parece que você estava preparado para ir um pouco longe.
- Que sorte a minha. Posso ver que encontrei uma detetive amadora, também - murmurou, observando-a aproximar-se do balcão.
Tirando as migalhas de cima do mármore e recolhendo-as na mão, ela se dirigiu à pia e abriu a palma sob a água corrente. Trazendo um pano, começou a lustrar o mármore
apesar de ele estar ali.
- Algo mais para comer? A torta está fresquinha.
Ele detestava o fato de ela ter acertado seu ponto fraco. Não poderia resistir.
- Aceito, obrigado.
Aquela era com certeza a melhor torta que ele já provara e teve de se segurar para não gemer. Não poderia deixar de elogiar as'suas habilidades culinárias, mas certificou-se
de parecer bem casual.
- Você é uma boa cozinheira.
- Obrigada. Eu não sabia por que estava preparando essa torta ontem. Raramente tenho companhia aqui, mas acabou dando certo. - Gretel não deixou de notar o desleixo
dele, apenas ignorou o fato e se dirigiu à escada estreita no final da cozinha que levava ao andar superior. Parando com um pé no primeiro degrau, sorriu para ele.
- Bem, nós entregaremos a carga e voltaremos. Então você pode voltar para sua casa. Enquanto isso, Toby vai mandar o filho mais velho dele aqui para dar uma olhada
no seu caminhão. Se ele puder fazer funcionar, você estará bem servido. Volto logo.
- Você não tem seu negócio de jardinagem para cuidar? - Ele espetou mais um pedaço de torta com o garfo e fechou os olhos para saborear. - Não pode simplesmente
abandonar tudo e sair quando lhe der na cabeça.
Gretel se virou do meio da escada.
- Essa é a parte boa da história. Eu certamente posso. Tenho uma assistente muito eficaz. Tudo que tenho a fazer é organizar para que ela me cubra. Normalmente está
disponível, e, se não, há uma outra pessoa que posso chamar. Você se preocupa demais, sr. MacDonald. Demais mesmo. Além do que, preciso me redimir pela peraltice
dos meus cães. Por favor, permita-me.
O que ele podia dizer?
Alguns minutos depois, ela desceu a escada usando um short estilo jardineira, um top de algodão branco sem mangas que contrastava com a pele bronzeada e prendendo
um telefone sem fio embaixo do queixo, enquanto abotoava os punhos da camisa jeans. Quatro pequeninos rubis cintilavam em suas orelhas. E nos pés um par de tênis
moderno, azul brilhante. Com cadarços verde-limão!
Ela parou e deu uma boa olhada nele. Parecia abatido.
- Você está com jeito de quem adoraria um banho. Enquanto isso posso lavar sua camisa e tirar as manchas de sangue. Levará apenas alguns minutos na secadora para
estar pronta para o uso.
Jake deslizou do banquinho.
- Suponho que se eu argumentar, você esconderá as chaves do caminhão.
- Ei, você é quem sabe.
Ele desabotoou a camisa e puxou de dentro do cós da calça jeans. Gretel não estava preparada para o golpe de pura admiração que correu por suas veias perante a imagem
dos músculos definidos, da pele macia e da névoa de pêlos em um tom mais escuro que os cabelos. A penugem fazia um "V" que começava no tórax, descia pelo estômago
firme e reto e desaparecia dentro do jeans.
Ele a pegou fitando-o, e, encabulada, Gretel corou. Queria se esconder embaixo do tapete de vergonha. Mas em vez disso, rapidamente puxou a camisa das mãos dele
e saiu para a lavanderia, ignorando a risadinha que Jake deu, enquanto subia a escada para tomar banho.
Quando a água bateu em sua cabeça dolorida, Jake simplesmente prendeu a respiração e ficou imóvel, as dores em todos os ossos do corpo sendo aliviadas. Que coisa,
de novo ela estivera certa.
Inclinando-se para deixar que a água batesse em suas costas, alongou-se ajudando a circulação sangüínea enquanto se aquecia. Aos poucos começou a se sentir humano
de novo.
Gretel subiu para se certificar de que desligara o rádio em seu quarto. Tinha se esquecido completamente que as tábuas empenadas do chão impediam que a porta do
banheiro fechasse completamente. Era fácil se esquecer de algo com o qual convivia, disse a si mesma quando diminuiu os passos e, contra sua vontade, pegou-se lançando
um olhar em direção àquela porta.
O som da água corrente montou um quadro em sua mente. Jake nu, a pele brilhante pela água.
Aproximando-se alguns passos, não conseguiu evitar uma espiada. Pela fresta vertical, entre a parede e a cortina do boxe, estava a bela imagem de parte de um corpo
firme, a curva forte das costas, a rigidez das coxas...
Jake era bonito. Um espécime perfeito de um corpo masculino daqueles merecia ser estudado e apreciado, proclamou a si mesma e então virou-se.
Com as faces queimando, sentiu-se uma completa tola. Afastando-se da porta e apressando-se pela escada, Gretel saiu à varanda e se sentou na cerca de proteção.
Jake a estudou. Aquela era uma mulher que sabia quem era e o que pretendia. Ele gostava disso, apesar de sua inclinação a não dar espaço para gostar ou desgostar
do que quer que fosse naquela mulher. O que não gostava é que ela continuava praticando sua benevolência com ele.
Mas precisava entregar o bendito feno e voltar para a fazenda de seu pai. Melhor seguir com aquela farsa. Mesmo que passar o dia com ela fosse ser pura tortura.
- Vou pegar sua camisa - anunciou Gretel, passando friamente por ele e evitando olhar para aquele belo corpo além do necessário.
Voltando para dentro da casa, ela deu uma olhada para trás, yendo-o ficar à vontade no balanço, os pés esticados na madeira inferior da grade. O coração apertou-se
no peito e por um décimo de segundo sentiu pena de si mesma. Não tinha um homem em sua vida no momento por escolha própria, mas Jake MacDonald certamente parecia
pertencer àquele lugar.
Então o bom senso retornou. E quem precisava de romance? Ela não. Então não tinha provado aquilo a si mesma naqueles últimos anos?
- Aqui está. - Ela colocou a camisa limpa no colo dele.
- Obrigado.
Ele ergueu a mão na direção dela e por um instante Gretel pensou que fosse agarrá-la e puxá-la para si, mas em vez disso Jake simplesmente pegou o telefone de sua
cintura.
- Preciso fazer uma ligação.
- À vontade. - Por alguma razão, imaginá-lo com uma esposa a deixou com uma sensação estranhamente triste. - Para sua família?
- Meu pai. - Ele lhe lançou aquele sorriso impressionante de novo. - Acho que você já ouviu falar dele. - Ele então enfatizou cada palavra. - O pobre velho MacDonald.
Aquele que tem um filho rico e mal-humorado.
Gretel mordeu o lábio. Oh, não. Então sorriu alegremente e, na defensiva, deu de ombros.
- Apenas repeti o que escutei dizerem.
- Há um nome para isso. Fofoca. Um tipo de passatempo perigoso. - Ele apertou algumas teclas do telefone.
Obviamente, mas ela não ia admitir.
- Isso depende.
Ele colocou o fone no ouvido.
- De quê?
- De quanto tempo faz que você teve uma conversa de verdade com alguém. Às vezes eu converso apenas porque acontece de alguém estar por perto para me ouvir. Somente
para me esclarecer, Jake MacDonald, você é tão ruim quanto as pessoas dizem?
- Pior. Muito pior - assegurou ele com um sorriso travesso.
- Agora mate minha curiosidade, você realmente apareceu na fazenda de terno?
O olhar de raiva que ele lhe lançou quase a arremessou da varanda. Tinha o pressentimento de que havia muito mais coisas sobre aquele homem do que ele estava querendo
mostrar. Os olhos eram claros e provocantes demais para pertencerem a um homem cruel. E viam muito. Quando Jake punha os olhos nela, sentia-se transparente. E o
homem tendia a falar muito pouco, o que significava que ele pensava muito ou que não pensava nada.
- Então, como você acha que fofocas como essa começaram? - perguntou, enquanto caminhavam em direção ao caminhão vermelho alguns minutos depois.
Ele levantou as sobrancelhas.
- Você deveria ser especialista nisso, uma vez que repete tudo o que ouve. Toda história sempre tem um fundo de verdade. Por quê? O que você ouviu sobre mim a assustou?
- Oh, sr. MacDonald, você se surpreenderia. Não há mais muitas coisas com capacidade de me assustar. - Ela automaticamente acariciou os cachorros que a seguiam.
- Eu não disse isso no real sentido. Mas você fala como se soubesse o que é estar verdadeiramente assustada.
- Verdade? - Gretel levantou os olhos para ele, a luz do Sol cegando-a. - Que interessante. Claro, já fui assustada uma enorme quantidade de vezes. Mas quem não
foi?
Inteligente escapatória. A mulher tinha mesmo um jeito de fazer qualquer um calar a boca. Tudo bem, nada mais de falar sobre esse assunto. E por que ele queria saber
o quê ou quem a havia assustado se ela não estava em seus planos?
- Eu dirijo - disse ele, enquanto rodeava o caminhão para abrir a porta do passageiro para ela.
- Com esse joelho machucado? Não. - Homens, pensou não tão silenciosamente, enquanto subia do lado do motorista e se acomodava ao volante. Mas ela realmente apreciou
o fato de ele ter dado a volta para ajudá-la a subir, tão automaticamente. Um cavalheiro. Então essa espécie não estava completamente extinta.
- Vamos fazer de conta que você não disse isso - provocou ele teimosamente em pé ao lado do caminhão, esperando que ela pulasse para o acento do passageiro.
Após alguns segundos daquele olhar de superioridade, Gretel cedeu.
- Certo. Dirija então. Sinta todas as dores que você merece.
Ele gostou do som do motor quando deu a partida. Uma légua de distância do barulho do velho caminhão de seu pai. Novamente pensou sobre todo o tipo de luxo que seu
dinheiro podia comprar e se perguntou por que seu pai simplesmente não o deixava ajudar.
Orgulho. Os MacDonald sempre tiveram problemas com o bendito orgulho.
A voz dela interrompeu-lhe os pensamentos.
- Se você é tão rico quanto dizem, por que não compra um caminhão novo para seu pai? Talvez agora não estivesse metido nessa encrenca.
Sim, além de tudo a mulher lia seus pensamentos.
- Segurança.
- O que isso significa?
- Ele conhece o velho caminhão. Levaria anos para se acostumar a um novo com todos os seus pedais, botões e alavancas. Ele conhece cada detalhe do velho, recorda-se
das brigas dos filhos pequenos na carroceria, lembra-se dos beijos que minha mãe lhe deu na cabine, da nossa velha cachorrinha dando cria no banco ao lado dele...
Coisas desse tipo.
Ela riu, imaginando o quadro.
- É duro se separar daquilo que você está acostumado.
- Você diz isso como se estivesse acostumada a se separar das coisas. - O interesse dele tinha verdadeiramente chegado à superfície. - O que foi que você teve de
abandonar?
- Você quer uma explicação para cada palavra que digo. Que coisa! - Planejando desviar a atenção dele, ela apontou pela janela e anunciou, sem fôlego: - Olhe, um
falcão!
Sem se incomodar em olhar para onde ela apontava, Jake ridicularizou:
- Eu não me distraio tão fácil assim. O que você teve de abandonar?
Voltando a recostar-se no banco, ela o fitou. Aproveitando que Jake estava com a atenção na estrada, fitou-lhe o perfil másculo, demorando-se na boca. Céus! De onde
vinha aquela vontade de beijá-lo?
Bem, o que ela tivera de abandonar em sua vida não era da conta dele.
- Isso é uma longa e cansativa história.
- Este é um longo e cansativo trajeto.
- Olhe, MacDonald, você me parece um bom sujeito, mas não estou acostumada a discutir minha vida particular com ninguém.
Ele podia compreender aquilo.
- Tudo bem, se é assim que você quer.
- Sim, obrigada. - Ela o analisou cuidadosamente. - Seus machucados parecem pior esta manhã do que estavam ontem a noite. Seu olho está roxo e há uma escoriação
feia no seu maxilar. Como se sente?
- Estou bem. E você tinha razão sobre o banho. Funcionou muito bem.
Gretel contraiu os músculos perante a lembrança da imagem daquele banho.
-  Então, conte-me o que você faz em Baltimore que é tão importante assim que o impede de voltar ao lar para cuidar de seu pobre e velho pai e da fazenda da família.
Um sorriso amplo iluminou o rosto dele.
- Você faz com que eu pareça um filho ingrato. Eu construo navios.
Ela franziu o nariz.
- Como Noé construiu a arca, com as próprias mãos?
Jake riu alto e profundamente, e ela se pegou enfeitiçada pelo som.
- Não, mais como Deus dizendo a Noé o que construir e como.
- Oh. Isso é arrogante demais. Não é de admirar que você se ressente em ter de voltar ao lar e se misturar conosco, simples fazendeiros. Então os rumores estavam
corretos. Você é mau.
Ele riu.
- Você poderia dizer isso. Preciso voltar à minha vida no estaleiro. - Ele continuou como se justificando aquilo a si mesmo. - Fui o último filho a sair de casa.
Evidentemente a família inteira achou que eu fosse seguir os passos de meu pai e continuar a trabalhar na fazenda. Eu até tentei, mas apenas fiquei porque ele precisava
de mim.
- Mas então você acabou partindo.
- Eu tive de partir, mas esperei até que ele estivesse conformado com isso. Tinha que haver algo mais lá fora. Percebi isso quando descobri que tinha talento para
os negócios, para administrar situações, para conseguir que coisas ficassem prontas.
- Já lhe ocorreu que sua criação de base numa fazenda foi o que lhe proveu de todas essas habilidades?
Ao olhar incrédulo dele, ela explicou:
- Você não vê? O que aprendeu na fazenda veio a ser útil na cidade. A arte de administrar, a autoconfiança, a certeza de poder fazer.
-  Mas não é a mesma coisa. Eu gosto do passo rápido, do desafio, do estresse. E foi meu pai que me incentivou a partir. Ele viu que eu queria algo mais e então
me convenceu.
- E ele se arrepende disso desde então - completou ela.
- Não. Acho que eu perceberia se ele tivesse se arrependido.
- E assim que puder, você vai deixá-lo outra vez.
- Somente depois que ele estiver bem para circular pela fazenda e... Ei! você está tentando fazer com que eu me sinta culpado?
- Não. Você se sente? Onde está sua mãe?
- Faleceu há muito tempo. Ataque cardíaco. Ela morreu levando o coração de toda a família.
Gretel notou o tom triste nas palavras dele, mas apesar disso falou francamente:
- Acho que você tem estado mentindo para si mesmo há muito tempo.
- Sobre o quê? E como você pode saber? Somos dois estranhos.
- Sobre diversas coisas. Posso não conhecer sua personalidade, mas às vezes tenho o dom de ler as pessoas. - Ela colocou um cachinho atrás da orelha. - Tudo bem,
lá vai. Você obteve sucesso rapidamente porque se esqueceu de como é ótimo não estar em poder das incorporações. Deus, administrar uma fazenda do tamanho da de vocês
é um grande trabalho, mas há incontáveis benefícios. Você pode ser seu próprio chefe... e ainda trabalha onde mora.
Ardente. Aquela era a palavra para descrevê-la.
- Gretel, tocar uma fazenda é uma perspectiva perdida nos dias de hoje. Isso não me proporciona viagens à Europa, férias no Caribe, uma lancha, o privilégio de ver
que todos na minha família têm tudo que precisam. E mesmo que não fosse por isso, a fazenda é diferente. Se eu pudesse voltar atrás, para o jeito que as coisas eram
quando eu estava crescendo... a camaradagem familiar, o esforço grupai para aprontar o que precisava ser feito... Mas não é mais assim. Nem nunca será.
Ela decidiu ficar longe daquela linha de pensamento por hora, uma vez que isso parecia ser um assunto sensível.
- Então é pelo dinheiro. Nada bom. Você precisa parar e sentir o aroma das rosas. Clichê, certo, mas é verdade. Eu tenho as rosas. Mas e você? Tem tempo? - desafiou
ela.
Franzindo as sobrancelhas, Jake desviou os olhos da estrada um instante e a fitou.
- Não, tocar a fazenda e minha empresa, simultaneamente, está me deixando maluco. Eu ainda trabalho em Baltimore duas ou três vezes por semana. Meu laptop, o fax
e eu nos tornamos amigos íntimos e inseparáveis agora. Quem quer que tenha inventado o e-mail merece o Prêmio Nobel.
Rindo, ela concordou.
- Tudo bem, mas só por hoje, relaxe e veja de verdade o que está na sua frente. Não há mais nada que você possa fazer,, de qualquer forma. Meus cachorros devem ter
pressentido isso. Talvez eles lhe tenham prestado um favor.
Ele lhe lançou um sorriso.
- O que está na minha frente hoje é você. Então, qual a sua história, Gretel? Onde está sua família?-Surpreendia-o que realmente quisesse saber.
- Hum, vamos ver. Fui encontrada num bambuzal por uma mamãe leoa e só saí da mata aos três anos de idade.
Ele persistiu:
- Você foi criada nessa região?
- Ao norte, no Maine. E sim, sinto saudade de lá. Morávamos numa vila de pescadores. Meu pai dedicava-se à pesca de lagostas. e minha mãe era dona de casa. Tenho
dois irmãos, Ron que é policial do Exército e Mike que é oficial da Marinha. - Ela suspirou. - Nós éramos extremamente pobres. Quando olho para trás, queria que
pudesse ter percebido o quanto feliz e perfeita era minha vida.
- Todos nós fazemos isso de tempos em tempos. E como você acabou vindo para a Pensilvânia?
- Minha avó morava aqui, em um chalé, Vim para cá depois do... meu divórcio.
Diminuindo a marcha do caminhão, Jake pegou a estrada estadual.
- Eu não gosto de falar sobre isso. Nem mesmo agora. Principalmente uma vez que meu ex-marido surgiu parecendo ser um homem bom. O fato de ele ser rico e influente
fazia com que todas as suas atitudes parecessem corretas.
- Sua família não lhe deu apoio?
- Do único jeito que podiam, acho que deram, mas você tem de entender, eles não são pessoas ligadas a esse mundo agitado e materialista. Eu não podia tolerar o jeito
que eles me olhavam, como se eu os tivesse desapontado. Não acho que até mesmo podiam compreender a situação na qual eu me encontrava.
- Que era...?
- Sabe, MacDonald, eu realmente não quero falar sobre isso. Você tem um chiclete aí?
Ele virou-se e a fitou.
- Lamento, não. Ele machucou você?
- Fisicamente não. Mas há danos piores. Eu queria um chiclete. Queria estourar bolas cor-de-rosa bem grandes enquanto você dirige. Importa-se de desviar na próxima
saída e procurar uma loja de conveniência?
- O caminhão é seu. - Que coisa, como fora acabar ali com ela? A sorte dos MacDonald, só podia ser. Se alguma coisa pudesse se complicar, complicaria-se.
Alguns minutos depois de volta na estrada, Gretel ligou o rádio e músicas dos anos cinqüenta preencheram a cabine. Ela mascava sonoramente o chiclete, fazia bolas
enormes e então ria cada vez que explodiam grudando no nariz e no queixo.
- Masque um também - ofereceu ela, estendendo-lhe a pequena carteira.
Ele balançou a cabeça.
- Obrigado. Você já está se fazendo de tola o bastante sem a minha companhia.
Ela pegou um chiclete da carteira e o pressionou na boca dele. Os dedos tocaram a pele macia dos lábios, e ela estremeceu.
Mas não foi a única a reagir.
Por um segundo Jake pensou sobre tomar aquele dedo entre os lábios, mas se perguntou aonde aquilo os levaria e se deteve. Podia controlar a atração por ela por um
dia. Ele mascou o chiclete e fez sua primeira tentativa frustrada de soprar uma bola. Gretel riu da falta de sucesso, e Jake sentiu uma forte necessidade de estourar
a próxima bola que ela formou por todo aquele lindo rosto.
- Isso vai voltar para você, aguarde - ameaçou ela, tentando falar sério.
Após diversas tentativas, ele conseguiu formar sua primeira bola e então a estourou com habilidade. A risada deles preencheu a cabine do caminhão, e Jake encontrou-se
querendo saber como tinha se esquecido tão facilmente como era ser feliz.
Gretel mudou a conversa para um assunto seguro.
- E então, como vai a saúde de seu pai?
- Melhorando devagar. Um fisioterapeuta vem todo o dia do hospital. Ele está com o lado direito paralisado e não pode ir até lá. Se pudesse, estaria pela fazenda
derrubando árvores.
- Ele está conseguindo falar?
Jake balançou a cabeça.
- A fala está confusa ainda, e então ele se recusa a falar.
- O orgulho de um homem é frágil.
Ele assentiu.
- Sim, tenho certeza de que a fazenda é a única coisa que o mantém vivo.
Ela estudou o bonito perfil a seu lado.
- E é por isso que você está aqui. Porque o ama.
Jake ficou imóvel apenas por um segundo.
- Sim, acho que sim. - Ele a fitou. Era bom demais conversar com Gretel Campbell. A moça parecia enxergar dentro dele. Poderia confiar nela ou não? Bem, tanto fazia.
Aquele dia logo estaria terminado e nunca mais voltaria a vê-la. O impulso de beijá-la, a vontade de segurá-la perto de si, certamente desapareceria ao pôr-do-sol.
- Você leva bastante seu pai para fora de casa? - perguntou ela quando algo lhe ocorreu.
- O fisioterapeuta o leva na cadeira de rodas às vezes para ficar um pouco na varanda.
Ela dobrou uma perna em cima do banco e ficou de frente para ele.
- Se eu fosse você, cercaria a varanda com vidros e colocaria uma cama lá.
Ao olhar confuso dele, ela continuou.
- Você diz que a fazenda é a única coisa que o está mantendo vivo. Olhe só isso. Ele vive pela fazenda. Se aqueles velhos aromas e imagens estiverem presentes ao
seu redor, aposto que ele tentará melhorar com mais afinco. Que tipo de fazenda é, de leite?
- De gado.
- Bem, coloque um balde de terra fresca na varanda, espalhe estéreo por cima. Estimule os sentidos dele, e o corpo responderá. Ver o Sol nascer e se pôr irá ajudá-lo
a melhorar seu ânimo.
Jake nunca pensara naquilo, mas parecia mesmo a resposta para o que estivera buscando. Um jeito de trazer a determinação de seu pai de volta.
- Bem, detesto ter de admitir, mas você é uma garota muito inteligente. Obrigado.
Gretel não pôde deixar de notar o respeito e a docilidade nos olhos dele. Então riu mais relaxada do que se sentia.
- Não há de quê, MacDonald.
A cabine do caminhão de repente pareceu pequena e sufocante. Até aquele momento ela fora capaz de ignorar a proximidade do homem, ignorar o fato de que seus dedos
formigavam de vontade de tocá-lo. Abrindo toda a janela, colocou o rosto para fora e respirou profundamente, desejando que o vento levasse toda aquela sensação que
ele evocava em seu interior.